"De Vovó para Vovó", é um espaço criado para contar um pouco da alegria de ser avó (ô), nossas experiências e emoções, e todas as dúvidas que surgem no decorrer da convivência com nossos pequenos. "Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando...(Clarice Lispector)
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Ter um amigo imaginário na infância é normal
Não censure a criança que demonstra ter um amigo imaginário; é saudável fantasias nesta fase
Na infância, conversar e brincar com um amigo invisível não deve ser motivo de preocupação para os pais, que, muitas vezes, ficam alarmados achando que há algo de errado com seu filho. É muito comum que as crianças dos três aos seis anos inventem este tipo de fantasia. “Faz parte do universo delas e é muito saudável. As experiências de faz de conta ajudam as crianças a criarem recursos para lidar com situações reais, como as de conflito, amor, ansiedade, medo ou mesmo desenvolver a própria criatividade”, afirma a psicóloga Brisa Campos, do Colégio Viver, em São Paulo.
Além de ajudar na formação da personalidade, o diálogo fantasioso aprimora a linguagem oral, pois, normalmente, as crianças ficam conversando longamente sozinhas. “Esse é um exercício para futuros diálogos com seus pares ou adultos com os quais se relaciona”, explica a psicóloga.
E não é só um personagem invisível que pode se tornar o melhor amigo de seu filho. Ele pode eleger um brinquedo ou um objeto que representa a figura humana e faz parte de sua rotina em casa ou na escola. “A criança fantasia situações do cotidiano nas quais é ela quem tem o domínio da situação. Tendo o poder de controlar, se sente importante e especial. Geralmente, imita falas e gestos dos pais, professores ou coleguinhas”, afirma a psicóloga Marta Bitetti, diretora do Colégio Ápice, também em São Paulo.
Autodefesa infantil
Muitas vezes, o imaginário surge da necessidade de uma companhia. “O motivo é sempre relacionado a questões internas que estão sendo trabalhadas e que fazem parte de uma mudança na rotina: a chegada de um irmão ou a separação dos pais, por exemplo . Mas trata-se de um recurso natural, saudável e passageiro”, conta a psicóloga e psicopedagoga Eliana de Barros Santos, diretora do Colégio Global, em São Paulo. A fantasia faz com que a criança se acalme quando está ansiosa, carente, com raiva ou sentindo medo. Muitas vezes, ainda, usam a voz de mentira para poder dizer coisas que não diriam normalmente.
Ao descobrir, os pais devem aceitar e entrar na brincadeira, sem se preocupar ou interferir. É melhor tratar tudo com naturalidade. “É uma fase transicional, que ficará para trás quando o vínculo com o mundo externo estiver mais consolidado e for possível ter experiências seguras com um amigo real”, diz Brisa Campos. A psicóloga infantil Paula Pessoa Carvalho concorda. “Os pais nunca devem ignorar os relatos do filho. Só é preciso ficar de olho no que fala e faz. Se deixar de brincar com os amigos ou não quiser sair de casa por causa do amigo imaginário é motivo para investigar”, declara.
É um erro repreender a criança ou dizer abertamente que seu amigo é fruto da imaginação. “Só vai deixar a criança confusa e com tendências ao isolamento ou envergonhada, mexendo muito com sua autoestima”, segundo Marta Bitetti. E passar a mentir pode ser a saída quando os pais não aceitam o amigo invisível.
Porém, também é um engano incentivar a relação invisível. “A criança pode crer que a voz do amigo tem mais repercussão no ambiente familiar que a sua própria e corre-se o risco de que ela se sinta invadida em seu processo de criação. O espaço da fantasia deve surgir de forma espontânea, porque o filho demonstra interesse, e não por uma insistência da parte dos pais”, declara Brisa Campos.
Hora do adeus
Um belo dia, seu filho lhe dirá que o amigo foi embora –e esse também é um processo normal. “Por ser uma fase passageira, normalmente, a criança encontra formas de abandoná-la sozinha. Se quiserem, os pais podem dizer que o colega foi viver a vida dele, que está bem, se divertindo e aprendendo na escola. O importante é passar segurança ao filho de que o ambiente em que vive é bom”, diz a psicóloga Brisa Campos.
Se a criança atingir sete ou oito anos e ainda manter os diálogos de conto de fadas, a família pode intervir e ajudar na transição da fantasia para a compreensão da realidade de forma espontânea. “Para isso, proponha, por exemplo, que seu filho escreva histórias com o amigo, o desenhe. Isso faz com que a criança caracterize mais este representante do seu ‘eu’ e, com isso, perceba e verbalize que ele não existe”, diz Brisa Campos.
Mas quando a brincadeira deixa de ser saudável e se torna um problema para os pais?
“Quando deixar de se relacionar com colegas de seu meio ou ainda se já está na pré-adolescência e continuar acreditando”, afirma Paula Pessoa Carvalho. Nestes casos, é preciso procurar orientação profissional e contar com a parceria da escola em que a criança está matriculada para observar se ela se comporta da mesma maneira no universo estudantil.
De Vovó para Vovó: o negócio é participar da vidinha de nossos netoe e fazer de seus amiguinhos imaginários os nossos amigos também. Por que não?